É um trabalho pastoral da Igreja que visa despertar os cristãos para a vocação humana, cristã e eclesial, discernir os sinais indicadores do chamado de Deus, cultivar os germes de vocação e acompanhar o processo de opção vocacional consciente e livre (cf. DBFP, nº 27).
Introdução. Vamos seguir um esquema de oito critérios que estruturam a pastoral vocacional, partindo do conceito de vocação, passando pelas consequências deste conceito, terminando no que entendemos por Pastoral Vocacional. Acentuamos a questão da mediação eclesial pois julgamos essencial para a estruturação da PV. Aliás, a mediação, quer seja eclesial, quer seja na base do testemunho dos agentes, é ponto fundamental para a eficácia da PV.
Ainda propomos algumas pistas para a implantação da PV numa diocese e uma breve reflexão sobre a PV e as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Como acreditamos que a verdadeira PV desperta o cristão não só para os ministérios ordenados (epíscopo, presbítero e diácono), concluímos propondo algumas anotações sobre os ministérios na Igreja.
Na linha do conceito de vocação
Primeiro critério: “Fundamentalmente, a vocação cristã é um chamado do Pai à salvação, por meio do seguimento e da identificação com Jesus
Cristo, dentro de um povo. A esta vocação o cristão deve responder com uma opção concreta na Igreja e a serviço dela, tanto do ponto de vista ministerial, quanto carismático, nos diversos estilos de vida”.
Segundo critério: “A vocação como chamado/opção se identifica com a dinâmica da fé. Com efeito, a fé como diálogo supõe um processo onde a palavra salvífica de Deus, feito pessoa redentora em Cristo, através de acontecimentos históricos, que culminam na Páscoa e no Espírito de Pentecostes desperta o homem e a mulher para uma opção progressiva
por Cristo para chegar ao Pai no Espírito Santo. Esta opção vai desde a conversão ( cf. Ad gentes 13 – adesão ao Senhor), passando pela vivência profunda da prática cristã e dos sacramentos (cf. Ad gentes 14 – catecumenato), até à opção apostólica cristã, expressa nos ministérios e carismas diversos a serviço da Igreja (Ad gentes 15 – vários ministérios).
Assim, ainda que vocação seja todo o processo de chamado/opção – a partir da conversão até a opção por um estilo de vida- consideramos que o processo vocacional propriamente dito começa na opção apostólica e se realiza num estilo de vida concreto dentro da Igreja”.
Na linha das consequências
Terceiro critério: “O cristão somente escutará este chamado através e dentro da comunidade cristã (cf. LG nº 9 – salvação através de um povo). E só chegará à opção, por um estilo de vida dentro da Igreja, se esta comunidade for abertamente apostólica e eucarística. Porém, esta comunidade deve possuir uma vivência espaço-temporal concreta, e por isso sublinhamos a estreita união que existe entre opção vocacional por estilos de vida e comunidade de fé, como grupos humanos apostólicos e concretos,
que se reúnem para rezar, ouvir a palavra de Deus, celebrar a Eucaristia e assumir os compromissos decorrentes desta vivência de fé.
Quarto critério: “Mesmo suposta a influência da comunidade, a opção vocacional é um ato eminentemente pessoal e personalizante. Do ponto de vista do apelo, supõe o reconhecimento e a transcendência de Deus e uma experiência pessoal de Cristo que, apesar de se manifestar na comunidade, nela não se esgota mas a ultrapassa e que chama a um diálogo interpessoal no amor. Do ponto de vista da resposta, supõe uma maturidade tal na opção
pessoal, que seja capaz de chegar a respostas cada vez mais comprometidas no amor até ‘o ficar comprometido’ e apto a se definir perante a Igreja e a sociedade, por opções – em si mesmas- definitivas”.
Quinto critério: “É essencial, para a opção vocacional, a renovação das
imagens da própria Igreja e das diversas vocações dentro dela. Sem estas imagens renovadas nossos jovens não encontrarão o caminho da opção. Ser uma imagem de vocação, que realiza a pessoa e a faça feliz. Ser uma imagem heróica, isto é, que lute por algo que valha a pena apostar a vida, sem esconder as dificuldades desta luta. Ser uma imagem encarnada em nossas realidades, de maneira que responda de forma positiva às necessidades de nossa sociedade “.
Sexto critério: “O ponto central da ação de toda a PV é aquele que parte da opção apostólica (inserção na comunidade, na variedade dos ministérios)
até chegar à opção por um estilo de vida concreto dentro da Igreja. A vocação cristã supõe homens e mulheres, que já vivam um estilo de
vida, escolhido livremente e com maturidade, homens e mulheres que
estejam a caminho como convertidos e que se encontrem num processo
de opção. Apesar de que este último não seja um estado de vida estável, mas um processo em vias de chegar à escolha de uma vocação particular, podemos chama-lo de ‘estado de opção’”.
Na linha da Pastoral Vocacional
Sétimo critério: É um trabalho pastoral da Igreja que visa despertar os cristãos para a vocação humana, cristã e eclesial, discernir os sinais indicadores do chamado de Deus, cultivar os germes de vocação
e acompanhar o processo de opção vocacional consciente e livre de tal modo que expresse seu serviço ministerial ou carismático para a Igreja, em qualquer dos estados de vida (cf. DBFP, nº 27).
Esta ação pastoral a Igreja a exercerá renovando a sua própria imagem e de seus ministérios, acompanhando o vocacionado no seu processo de amadurecimento pela opção.
Oitavo critério: A Pastoral Vocacional assim entendida supõe uma Igreja:
1. Trinitária. “Consumada, pois, a obra que o Pai confiara ao Filho realizar na terra (cf. Jo 17,4), foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes a fim de santificar perenemente a Igreja para que assim os crentes pudessem aproximar-se do Pai por Cristo num mesmo Espírito (cf. Ef 2,18)” (LG 4);
2. Ministerial. ” Não é apenas através dos sacramentos e dos ministérios que o Espírito Santo santifica e conduz o Povo de Deus e o orna de virtudes, mas, repartindo seus dons ‘a cada um como lhe apraz’ (1Cor 12,11), distribui
entre os fiéis de qualquer classe graças especiais. Por ela os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para renovação e maior incremento da Igreja, segundo estas palavras: ‘A cada um
é dada a manifestação do Espírito para utilidade comum’ (1Cor 12,7). Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja” (LG 12);
3. Igualitária. “Um é pois o Povo eleito de Deus: ‘um só Senhor, uma só
fé, um só batismo’ (Ef 4,5). Comum a dignidade dos membros pela regeneração em Cristo. Comum a graça de filhos. Comum a vocação à perfeição. Uma só a salvação, uma só a esperança e indivisa caridade. Não há, pois, em Cristo e na Igreja, nenhuma desigualdade em vista de raça ou nação, condição social ou sexual (cf. Gal, 3,28; Col 3,11). Se pois na Igreja nem todos seguem o mesmo caminho, todos, no entanto, são chamados à santidade e receberam a mesma fé pela justiça de Deus (cf. 2 Ped 1,1). E
ainda que alguns por vontade de Cristo sejam constituídos mestres, dispensadores dos mistérios e pastores em benefício dos demais, reina, contudo, entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (LG 32). Não confundir, porém, igualdade com igualitarismo. Entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial há uma diferença não de grau, mas de natureza. “Se
a diferença fosse de grau, seria certamente contrária à igualdade fundamental de todos os cristãos, porque estariam no mesmo sacerdócio, porém, alguns em grau superior (‘mais’ sacerdotes) e os outros em grau inferior. Ao invés disso, sendo a diferença não de grau, mas de natureza,
as relações não são de inferioridade e superioridade, mas são relações orgânicas (de funções), mais complexas”.
4. Missionária. “A Igreja peregrina é por sua natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai” (AG 2). Apta a responder sempre mais às exigências novas que a sociedade se lhe apresenta (cf. AG 6).
5. Inculturada. “Reconheçam-se (os missionários) como membros do corpo social em que vivem, e tomem parte na vida cultural e social através das várias relações e ocupações da vida humana. Familiarizem-se com suas
tradições nacionais e religiosas. Com alegria e respeito descubram as sementes do Verbo aí ocultas” (AG 11).
6. Sinodal. “Desde os primórdios da Igreja, os Bispos, colocados à frente de Igrejas particulares, levados pela comunhão fraterna da caridade e pelos cuidados da missão universal confiada aos Apóstolos, uniram sua energias e suas vontades na promoção do bem tanto comum quanto de cada uma das Igrejas. Por esta razão constituíram-se Sínodos ou Concílios provinciais ou enfim Concílios plenários. Neles os Bispos estabeleceram, para as várias
Igrejas, um teor comum a ser observado tanto no ensino das verdades
de fé quanto na organização da disciplina eclesiástica.
Deseja este Santo Sínodo Ecumênico que o venerável instituto dos Sínodos e Concílios seja revigorado” (CD 36). Este espírito de Igreja Sinodal, de comunhão e participação, se expressa claramente na Pastoral de Conjunto de uma Igreja Particular. A Pastoral de Conjunto não é uma caminho optativo: é a condição indispensável da ação eclesial; e tampouco ela pode surgir só da política do Bispo, tem que se ancorar na consciência de todos os membro da Igreja, perpassar toda a estrutura eclesial. Assim, somos incentivados a criar conselhos nos mais diversos níveis para que haja efetivamente participação
de todos nas decisões e se promova a comunhão de pessoas e ideais (cf. DGAE, nºs 296 a 303).
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